terça-feira, 2 de agosto de 2011

PRAIA CANSA

Metade Bahia, metade Ceará. Férias, julho 2011.


"Tchau, Fortaleza bonita! Tchau, jegue! Tchau, dunas! Tchau, areias coloridas!"

Foi assim que algumas crianças se despediram das férias no momento do avião decolar. Rindo, certifiquei que há mais crianças nos voos durante o recesso escolar que nos buffets infantis.

Não é fácil retomar a vida depois de 15 dias no Nordeste. O bronzeado some em horas, as olheiras reaparecem e trocar as havaianas pelos sapatos é tarefa árdua. Bate aquela depressão! É como se o corpo chegasse primeiro. Letargia. Depressão pós férias.

Dessa vez comecei na Bahia e terminei no Ceará. Brinquei bastante de ser rica e agora volto para o tronco.

Tchau, lagostas! Tchau, Moet & Chandon! Tchau, sol com brisa! Tchau, piscina de frente pro mar!

Não assisti TV. Li e dormi menos do que eu gostaria, mas comi e bebi mais do que eu deveria. Ao menos consegui evitar o e-mail do trabalho.

Praia cansa. É sério! Um dia de areia, mar e sol e vou pra cama cedo. Prefiro isso às noitadas. Porque férias na praia, pra mim, é de dia. E poucas coisas me fazem mais feliz que o entardecer na praia. É quando o meu lado atéia olha para o céu alaranjado e diz: Obrigada, Senhor! --> gesto que copio do meu querido amigo Dodô!

Dormir com o barulho do mar é mesmo um privilégio. E acordar com a certeza de um lindo dia de sol é outro maior ainda.

Agrada-me também a possibilidade de "não fazer nada". Pois bem, conseguir algumas horinhas pra fazer nadica de nada, pra mim, é muita coisa!

Na Bahia, na primeira semana, eu e a minha pequena sobrinha empinamos pipa, pulamos onda, brincamos de castelo na areia, vimos tartarugas e macaquinhos, desenhamos, fizemos diário de viagem e lemos histórias na hora de dormir. No Ceará, na segunda semana, matei a saudade das primas, ouvimos 500 mil vezes o cd novo do Chico, conversamos, brindamos e comemos horrores… Encontrei velhos amigos, fiz novos, comprei pequenos mimos e aproveitei um tempo sozinha para caminhar na praia e fotografar.

Agora, sem dúvida, o maior indicador de que estava tudo muito bom foi não ter sentido saudade de casa. Talvez não tenha dado tempo, é verdade. Mas o fato é que eu voltei porque tinha que voltar. Trabalhar, pagar as contas, tocar a vida. Pois é, ser adulto cansa! E cansa muito mais que praia!

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A MINI JAPA E A TIA DE PRIMEIRA VIAGEM


Lívia, minha pequena sobrinha de quatro anos e meio, viajou comigo para a Bahia agora no mês de julho. Foi a primeira vez que ela pegou um avião sem os pais e passou uma semana bem longe de casa. Praia, piscina, pipa, contação de histórias, pintura, desenho... E amor, muito amor! Teve até diário de viagem feito por nós duas como forma de registrar esse momento tão especial. E daí que resolvi compartilhar algumas das frases ditas pela pequena durante os nossos dias. Divirtam-se! 


Tia Van, já chegamos "em" Bahia? (do avião)

Ainda estamos no Brasil? (também do avião)

Queria que o mundo fosse de carne e de doces.

Tia Van, que peituça! (essa foi pra mim, ela queria dizer "peituda")

A mamãe e o papai são mais bonitos que a natureza. O papai é mais bonito que a primavera.

"Bigo" (é assim que ela chama umbigo)

Cadê minha pipinha? (se referia a pipa que empinamos no dia anterior)

Quer saber de uma coisa? (ela usava essa expressão a todo momento para contar qualquer coisa)

A gente veio pra Bahia para ver macaquinho. Se a gente não visse, não teria a menor graça.

Os baianos falam português ou inglês?

Esse avião vai pro Brasil? (no voo da volta, mesmo já tendo explicado algumas vezes que a Bahia fica no Brasil!)

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O MUNDO MÁGICO DE CARTAGENA

Cartagena das Índias, Vanessa Dantas, 2011


Foi lendo "O Amor nos Tempos do Cólera", no ano de 2007, que o Gabriel García Márquez colocou Cartagena das Índias nos meus planos de viagem. Vale dizer que nunca tive o sonho de rodar o mundo, são poucos os lugares que eu realmente quero conhecer e tenho a mania (sim, estou virando uma velha cheia delas!) de voltar sempre aos lugares que gosto muito. Ok. Vai ver que é por isso que eu ainda não fui à Paris.

E então o meu aniversário desse ano estava chegando (30/4) e a vontade de comemorá-lo num lugar novo se fez presente. Poucas milhas (12 mil - ida e volta pela Gol), o fato de uma grande amiga morar (temporariamente) em Bogotá e a grata coincidência de que a namorada do meu mano estaria por lá na mesma data, fez de Cartagena uma janela, ops, uma varanda de oportunidades.

Lá fui eu!

Não vou contar todos os detalhes porque ninguém merece uma coisa dessa, mas já que muitos amigos/conhecidos perguntaram sobre a viagem, resolvi listar algumas impressões/dicas sobre o "mundo mágico” de Cartagena.

O Mundo Mágico"
O centro antigo de Cartagena – onde fiquei hospedada – é cercado por uma muralha, de 8 km, do século XVI. Desde a primeira vez que atravessei a tal muralha, tive a sensação de adentrar um "mundo mágico". Aquela cidade colonial, protegida e colorida, completamente diferente da Cartagena de fora da muralha, me abraçou, me acolheu e fez os meus olhos brilharem e se emocionarem uma porção de vezes.

Dentro da muralha, são cerca de 40 quarteirões com museus, centro culturais, igrejas, praças e casarões de todas as cores.

A primeira e mais importante dica
Hospede-se no centro antigo (informação preciosa dada pelo querido Marcelo Moutinho que tinha acabado de voltar de lá). Pode ser um pouco mais caro, mas para "viver" de fato a cidade, deve-se dormir e acordar dentro da muralha.

Fiquei no hotel Sol de La India. Tanto o quarto duplo quanto o quarto single custa, na baixa temporada, cerca de R$ 100 a diária, sem café da manhã.

Se você é uma pessoa mais abonada (bem mais!), a dica é o Hotel Santa Clara. Simplesmente deslumbrante. Quem sabe na minha próxima ida? Pois é, quando gosto muito de um lugar, tenho a mania de voltar, lembra?

Praias
Dentre os passeios de lancha (média de R$ 50/pessoa), fuja do Aquário que fica no arquipélago de Rosário. Siga direto à Playa Blanca (onde passei o belíssimo dia de sol do meu aniversário). Lá você encontrará o mar azul do Caribe, porém, com péssima infraestrutura. O passeio sai por volta das 8h/9h e retorna entre 16h e 17h.

Na praia, são muitos os vendedores de artesanato, pedras e tranqueiradas. Cansa um bocado ter que passar o dia dizendo não. Fuja também das massagistas que já chegam tocando, pegando, o que é bem chato. Uma cara de "poucos amigos" resolve.

Uma opção para quem gosta de uma melhor infraestrutura é passar o dia no El Laguito. Um táxi do centro antigo até lá não sai por mais de R$ 6. Vale ficar no restaurante de frente para o mar (na parte de cima é ainda melhor), com espreguiçadeira, balde com cervejas geladas, mojitos, frutos do mar, ceviches e todos os salamaleques por um preço bem camarada. A praia não é tão linda quanto as mais afastadas, mas dá pra passar um dia bem gostoso com direito a um belo pôr do sol no final. E pra quem gosta, ainda dá pra curtir wind e kitesurf.

Comilança
O La Vitrola é considerado o melhor (e mais caro) restaurante da cidade. Como é preciso fazer reserva com antecedência, não conseguimos conhecê-lo na noite do meu aniversário, e então acabamos indo no dia seguinte. Além da comida divina, há um grupo de músicos no estilo Buena Vista Social Club que fica cantarolando durante o jantar (é claro que chorei disfarçadamente com "Yolanda"). A conta, com bebida (sem muito excesso), deve ficar em torno de R$ 150/pessoa. Digo "deve" porque nesse dia fomos com um grupo de novos amigos que não nos deixaram pagar nada. Oba!

Passei o meu aniversário no restaurante El Santíssimo. Contemporâneo, irretocável. Na data, oferecia um "combo" que consistia em entrada, prato principal, sobremesa e bebida à vontade (isso mesmo! era só escolher - ficamos no espumante!) por cerca de R$ 90/pessoa (incluído imposto e serviço). 

A Casa Del Socorro, segundo consta, é um restaurante típico. Não conheci porque não deu tempo. No dia reservado acabei jantando no Quebracho, perfeito para a minha pessoa que, depois de muitos "bichos" do mar, estava sedenta por um bom bifão.

Transporte
O voo de Bogotá para Cartagena dura pouco mais de 1 hora. Não é aconselhável fazer o trajeto de carro ou ônibus. Segundo consta, as estradas são bem perigosas. Os bilhetes de ida e volta com as taxas (mais caras que os próprios trechos) custaram cerca de R$ 400 pela Copa Airlines.

Táxi é muito barato. Do aeroporto para a cidade antiga não custa mais do que R$ 20. Qualquer deslocamento entre a cidade antiga e a parte externa não passa de R$ 8. A maioria dos carros não possui taxímetro, de modo que o preço deve ser combinado antes com o taxista. Dentro da muralha é possível fazer tudo a pé.

Clichês
Resisti o quanto pude ao "romântico" e/ou "nostálgico" passeio de coche (carruagem), afinal, seria clichê demais para uma estudiosa do Turismo. Porém, na última noite, arrisquei. Foi perfeito! Recomendo muito.

Outro clichê imprescindível é apreciar o entardecer no Café Del Mar. Os drinks, a brisa e a gringolândia em peso transformam o visual de cima da muralha bastante convidativo.

Outros atrativos menos atrativos
Existem algumas opções de atrativos fora da muralha que fazem parte, digamos, do circuito oficial. Como sou um pouco preguiçosa para os pontos demasiadamente turísticos, optei por conhecer apenas o Convento de La Popa (de 1607) que está localizado na parte mais alta da cidade e que, segundo o ditado local, "Si no has subido a La Popa no has visto a Cartagena", e o Castillo de San Felipe de Barajas que é considerado a maior obra de engenharia militar espanhola na América, originalmente construída em 1563 com modificações e ampliações em 1657.

Vale combinar com um taxista para levar aos atrativos e ficar esperando.

O Gabo
É assim que o Gabriel García Márquez é chamado por lá. Gabo é Cartagena, Cartagena é Gabo. Assim mesmo, tudo uma coisa só. Ele mesmo já disse "Todos os meus livros têm fios soltos de Cartagena neles". Só não reconhece quem não leu.

Portal de los Dulces está logo na entrada do centro antigo de Cartagena e foi descrito em "Amor nos Tempos do Cólera" como o Portal de los Escribanos, onde Florentino Ariza susurrou para Fermina Daza "Esse não é um bom lugar para uma deusa coroada". Lá estão inúmeras barraquinhas coloridamente açucaradas.

A Plaza Fernández de Madrid serviu de inspiração para a Plaza de los Evangelios, onde Florentino, sentado num banquinho, fingia ler, na esperança de ver Fermina passar. A casa dela, um sobrado branco avarandado, está lá.

A casa terracota do Gabo fica próxima à muralha, num cantinho do "mundo mágico", e faz parte do roteiro do passeio de coche.

Otras cositas mas
- Recomendo passar o dia fora da muralha, conhecendo os pontos turísticos externos e praias e deixar o final de tarde e noite, quando o clima está mais ameno, para se perder pelas ruas do centro antigo.

- As principais jazidas de esmeralda do mundo são colombianas. Porém, apesar da grande oferta de ouro e prata com a linda pedra verde, vale deixar para comprar as belezuras em Bogotá onde o preço é mais convidativo.

- Peça nota fiscal de tudo, tudim que você comprar na Colômbia com cartão de crédito. O imposto de boa parte das suas compras (artesanato, roupa, perfumaria e etc.) pode ser ressarcido. Basta solicitar um formulário no aeroporto, preenchê-lo, anexar as notas e aguardar. Em até 90 dias o crédito é lançado na fatura do cartão de crédito. --> isso não funcionou, mas também não fui atrás :-(

- Se a água do banho de SP fosse a mesma de Cartagena, haveria uma queda brusca nas chapinhas e escovas progressivas. Acontece que o cabelo fica incrivelmente liso. Lindo! Lindo!

- Eita povinho que gosta de buzinar! Tanto em Cartagena quanto em Bogotá.

- O povo é bastante alegre e hospitaleiro. E até onde pude perceber, eles gostam um bocado dos brasileiros e mais ainda “das brasileiras”.

- Roupas de calor para Cartagena (o clima é quente e úmido) e meia estação/frio para Bogotá (dizem que chove um bocado por lá, eu dei sorte nos meus três dias de estadia!).

Foram apenas quatro dias (mágicos!) em Cartagena, em ótima companhia. Intensos, muito bem vividos, e com aquela vontadinha de ficar mais. Recomendo vivamente! 

Pois é. Lembra da tal mania? Então...

quarta-feira, 22 de junho de 2011

AS COISAS MUDAM, SABEMOS

Foto: Encontro com Iemanjá, Vanessa Dantas

Foi lavando o cabelo, logo pela manhã, que ela se lembrou da primeira vez que ele foi a casa dela. Ele queria conhecer o banheiro, o cenário onde ela tomava banho. 


Ela sorriu. 


É fato que as coisas tinham mudado, mas era verdade também que ali, naquela casa, algumas coisas permaneciam iguais. O Black Label ainda estava lá, do jeitinho que ele deixou, esperando a quantidade certa de gelo, no copo preferido dele. Espumante para ele não era uma boa pedida, da última vez, quase erraram o ponto. Ela bem que preferia culpar a tempestade. Sim, os encontros deles, em sua maioria, foram marcados por grandes dilúvios. “Um presente”, ela dizia, já que adorava banhos de chuva! Era difícil romper aquelas conversas infindáveis no sofá, ele nunca tinha vontade de ir embora. E ela achava graça quando ele falava que queria ser seu escravo. Dizia que largaria tudo para ficar ali, cuidando dela. Prepararia o café da manhã e a esperaria para o jantar, daria banho e a colocaria para dormir. Ele se emocionou quando ela respondeu que sim, que seria capaz de tê-lo como pai do seu filho. Ele chorou, algumas vezes, perto e longe dela. Ela sorriu quando se lembrou dele ligando do telefone do boteco. Mais ainda quando ele saiu de pijama e foi para a praia porque simplesmente não conseguia dormir sem ligar para ela. Acordava e dormia pensando, o dia todo, todo o dia. Ele queria levá-la para viajar, queria que ela conhecesse as praias “dele”, e então ficavam pensando no dia em que pegariam estrada juntos. Ela jamais vai esquecer o encontro deles com Iemanjá. Das flores, do silêncio, do mar prateado ao amanhecer, da prece, dos sonhos, da cumplicidade, das lágrimas... E claro, dele limpando o pé dela de areia. “O moço que adora pés”, disso também ela não vai esquecer. Mesmo dorminhoca, não se incomodava com a mania dele de acordá-la cedo. O toque do celular virava sinfonia. Todo tempo junto parecia pouco. E a vontade de estar junto, de grudar, só aumentava. MSN, Skype, DM. Nem a alta conta do celular tirava o humor dela. Ela cozinhava para ele e ele para ela. Eram bons de fogão, copo e garfo. Boa comida, boa bebida, bom papo e colo. Era tudo o que precisavam. Entre a cozinha e o sofá foram muitas as confidências. E ficavam ali, naquela bolha, sem noção do tempo, completamente distantes do mundo lá fora. Ele até chegou a reproduzir, longe dela, e mais de uma vez, um dos pratos que ela cozinhou para ele. Dizia que era uma forma de tê-la por perto. Na casa dela, eles ouviam João Gilberto, Cartola, Chico, mais e mais. Certa vez, ela até arriscou a tirá-lo para dançar Nelson Gonçalves. E eles riram. No carro dele, ele apresentava e cantava para ela seus versos preferidos. O porteiro não entendia porque ela vivia perguntando se "a encomenda" já tinha chegado, e os e-mails, verdadeiros poemas, que tanto a inspiravam, estavam todos ali, seguramente guardados, para todo o sempre.

Mas as coisas tinham mudado, eles sabiam. Sabiam também que as coisas do coração não são explicáveis. E entre a perda e o alívio, ela se sentia bem. E assim terminou o longo banho, se enxugou na toalha laranja, e sorriu.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

NÃO MAIS

*
Não consigo mais escrever. Aqui não. Aqui não consigo mais. Respondo e-mail, escrevo carta, devolvo a provocação. Aceito encomenda, vendo palavras, compartilho conteúdos, endosso opiniões. Me limito aos 140 caracteres. Não consigo mais escrever. Porque preciso da dor. Ou preciso do amor. Rimar dor com amor? "Pelamor". Aqui não. Falta o suor, o arrepio. A nuca, a retina. O alimento, senão... Aqui não consigo mais.
*
*

quarta-feira, 11 de maio de 2011

O OUTRO

Não costumo publicar texto que não seja de minha autoria,
mas esse, do Chacal, me venceu!

só quero
o que não
o que nunca
o inviável
o impossível

não quero
o que já
o que foi
o vencido
o plausível

só quero
o que ainda
o que atiça
o impraticável
o incrível

não quero
o que sim
o que sempre
o sabido
o cabível

eu quero
o outro

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

UM BEIJO ROUBADO

FOTO: Vanessa Dantas

Foi do sofá que ela avistou o abajur dos Beatles, lembrou dele resmungando e começou a gargalhar. Na verdade, começou somente a gargalhar, porque lembrando dele já estava, quase o dia todo, todos os dias, desde o último abraço. No fundo ela queria ele ali, esparramados naquele sofá, tão cúmplice deles dois. Preferia contemplar as cores saturadas do filme do Kar-Wai no aconchego do corpo dele. Por instantes, se sentiu a torta de blueberry, do mesmo Kar-Wai, e viu vantagem nisso.

Alguns anos com medo de encarar aquele filme pela segunda vez, fez com que o DVD comprado permanecesse intacto. E agora estava ali, na TV aberta, compreendendo que nem sempre há explicação para todas as coisas, que há perdas que pedem luto, mas que é possível amar intensamente mais de uma vez.

Poderia passar a vida cortando tomates, se fosse para tê-lo em sua cozinha, proseando, confidenciando, cantando Nelson Gonçalves e enchendo a sua taça. Da cozinha pra sala. Da mesa pro sofá. O mesmo sofá. O cúmplice. Das lágrimas e dos devaneios. E ponto.

O desejo era urgente, mas o zelo era maior. E assim, a cada encontro, adiavam o quarto. Porque sabiam que não teria volta. Do quarto pra cama. Da cama pra vida.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

UMA CARTA DE AMOR

Foto: Vanessa Dantas, 2010.


Uma carta de amor. Foi assim que ela recebeu a mensagem daquela manhã. Não, não foi escrita à mão, não estava envelopada, e também não chegou pelo correio. Mesmo assim, era uma carta de amor. Que carregava o cheiro dele. O desejo, a sede e a fome. Explícita. Despida, impulsiva, urgente. Uma carta de amor. Daquela que toca, que abraça, que aperta, que molha, que salga. E depois adoça. Que confessa, que escancara e que sonha. Uma carta de amor. Que não aceita demora na resposta. Porque precisa dela. E pede. A mão dada. O olhar, o sorriso, o colo e o cafuné. Que rememora o silêncio, o pé na areia, as marcas do corpo e o banho de mar. Uma carta de amor. Que não pode esperar. Para agradecer e pedir perdão, mesmo sem precisar. Uma carta de amor. Que entrega, que presenteia. Que respeita e zela porque quer preservar. Uma carta de amor. Que alimenta, acende e dá vida a quem já tinha desistido de voltar a amar.