quinta-feira, 25 de outubro de 2012

ENTREGUE(S)



Se não fosse a fala mansa, o beijo quente e o par de olhos azuis no decote dela, certeza que ela o teria evitado.

Teria nada. Desde a primeira vez que ela o ouviu, sentiu vontade de prová-lo. Tanto tempo depois, aquela altura, já o imaginava no sofá, na parede, na cama, no chuveiro, na vida dela. Por pouco tempo, é verdade, porque as relações são perecíveis e a deles já começava assim, datada. Acontece que, de tão molhada, o prazo de validade ficou ilegível e ela se perdeu, sem saber a hora de acabar. Lamentava a falta de um manual com dicas sobre a hora de romper. Romper no momento certo, uma arte, que poucas vezes dominara. E seguia assim, entregue.

O primeiro encontro foi de expectativa, curiosidade, excitação. Saíram pra jantar e, na volta, com a desculpa de um drink saideira, ela bebeu ele. E se embriagou. Acordou de ressaca, mas daquela que só passa com mais uma dose. Repetiram, de imediato, com sede de anteontem. E seguiam assim, entregues.

Não faziam planos, maiores combinações, não existia hora certa. Ele podia acordá-la, tal qual uma gata de armazém, em uma manhã de terça-feira, ou aparecer de bermuda e chinelo, em uma sexta, pra ver o pôr do sol da cama dela.

Ela se sentia mais linda ao lado dele. E ele mais jovem ao lado dela. A cruz nas costas, os cochilos suados, a cumplicidade criada, o ciúme discreto, a saudade apertada. Imprevisível, "gostosudo", arrebatador. Romance com gosto. De bomba de chocolate.


(dos escritos perdidos, de um dos meus caderninhos)

6 comentários:

Pricila disse...

Van, vc sabe q adoro seus textos !! Lendo desperta minha vontade de escrever. Fazia no passado! Sou sua fã!! bjsss
pri marchese

Fernando Amaral disse...

Bonito.

Renata disse...

Ebaaaaaaa! Vc ressurgiu de novo! Lindo e suave texto. Elegante também.

Liliam disse...

vc voltou! e com tudo! EBA! :-)

Um brasileiro disse...

Oi. Estive aqui dando uma olhada. Tudo bem com vc. Muito legal aqui. Apareça por la. Bjus.

Suzana Quadros disse...

Adorei seu texto!